Catequizando barnabés: "Não invocar o Santo Nome de Deus em Vão" (Março de 2005)
Publicado em 24 março 2005 por RAF | E-mail this post
Hoje, o barnabé Rui Tavares insurge-se contra o Luís Delgado, por ele se manifestar contra a Eutanásia.
Esta questão tem dividido bastante a sociedade civil em Portugal; ela é, sem dúvida, uma das questões éticas mais sensíveis destes tempos "pós-modernos" (perdoa-me, Luis Nazaré: afinal a expressão da mesmo jeito!), onde o relativismo light (bem me parecia que esta expressão iria ser novamente útil), o culto da juventude e do corpo, o hedonismo e a vida sem sacrifícios nem dor dominam o nosso imaginário.
Antes de avançar, não resisto a uma pequena provocação: quando PSL na campanha eleitoral se referiu a esta questão, assistimos a um coro de protestos, por não ser "pertinente" nem interessar à generalidade dos cidadãos eleitores (com o que, aliás, concordei); PSL estaria a "desviar a atenção dos portugueses". Passados pouco mais de trinta dias, bastaram a ascensão ao poder do mais nórdico de todos os hispânicos, a cobertura da imprensa a propósito de um galardoado filme europeu e um complicado processo judicial na América para que a Eutanásia passasse para pole position das preocupações da sociedade mediática portuguesa (não sei se dos portugueses).
Não vi o filme "Mar Adentro"; mas conheço bem a história deste pobre galego que morreu bem antes de estar morto, por ter perdido o amor à vida; o processo de Terri Schiavo é bem mais complicado, no limite do conflito ético.
Em qualquer caso, o cenário que nos tem sido apresentado é de arrepiar: a instrumentalização da dor humana, posta ao serviço da eutanásia como símbolo de modernidade e progresso, é assustadora; os rótulos de insensibilidade e "medievalismo" colocados aos que, simplesmente por respeitam a vida (além de a amarem), não vêem a eutanásia como solução, indignam-me:
Eu estou solidário com a dor e o sofrimento daqueles a quem a vida foge mas a morte não abre as portas; agora, tal não significa que se possa aceitar como solução pôr a decisão sobre a vida e a morte nas mãos dos homens.
Esta não é, para mim, e no seu ponto de partida, uma questão religiosa (embora a abordagem da religião lhe dê outra dimensão); nasce, antes de mais, do respeito que tenho pelas leis da natureza e por uma hierarquia de valores partilhada por muitos homens e mulheres, de vários e nenhuns Credos. Eu acredito que há um Deus; mas a sua existência apenas me é revelada porque tenho Fé; admito que outros possam ter visão diferente. A Vida, essa, a todos nos é evidente; a sua existência não pode ser negada: podemos falar em dor, em prazer, em sofrimento, em direitos; mas tudo isto pressupõe uma existência. Naquilo que nos é dado a conhecer pela Natureza, negar a vida - como retirá-la - é conduzir o homem à sua inexistência. Por isso, não há dor, nem sofrimento, nem vontade, que justifique que alguém possa conduzir o seu próximo a este vazio, a esta inexistência.
Rui Tavares termina a sua intervenção com um desabafo: "Que mundo é este, meu Deus?". A utilização da expressão "Meu Deus", este recurso à providência divina está de tal forma banalizado que serve como forma de desabafo protagonizado pelos mais improváveis desesperados.
Mas, Rui Tavares, deixe Deus fora destas questões dos homens.
Rodrigo Adão da Fonseca
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