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Aqui vou guardar alguns dos posts que escrevi no Blasfémias, é não só, e que pretendo ter «à mão». Não vai ter mais do que uma função de aquivo.




O início de uma longa travessia (Abril de 2005)


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Ainda de luto e influenciado pela morte de João Paulo II, e sobretudo ainda frágil pelo banho mediático (tenho medo de adormecer e, como ontem, acordar e pensar que estou na Praça de S. Pedro), tenho procurado seguir o Congresso do PSD; desculpem-me, assim, o tom algo bíblico do meu post. O Pavlov explicava isso muito bem...

Hoje, não tenho dúvidas que a direita em Portugal iniciou este fim-de-semana uma longa travessia no deserto.

Em primeiro lugar, porque os candidatos à Presidência do PSD consideram, ambos, que a forma de retomar a confiança dos portugueses está na recuperação da social-democracia.

Ao fazê-lo, o PSD pretende rivalizar com o PS o espaço político do "centrão", mas com as mesmas armas ideológicas.

O problema está que nem Marques Mendes, nem Meneses, têm envergadura nem carisma para rivalizar com José Sócrates. E porquê?

Porque Meneses é visto como um outsider que procura afirmar-se no actual vazio político, um líder cognotado com o poder autárquico, com o futebol, com as tricas partidárias regionais; está longe da imagem do "Estadista". Ao nível das ideias, o seu discurso foi confrangedor.

Marques Mendes não é, claramente, o Moisés de que o PSD precisa para a longa travessia "de regresso a Israel". Embora ele vá lutar em sentido inverso, é um Presidente a "recibos verdes", que os grandes "players" do PSD acabaram por aceitar, face à força das circunstâncias: eleições e referendos à porta, quatro penosos anos de oposição, necessidade de reorganizar o partido.

António Borges, ao contrário do que é convicção de alguns, deu este fim-de-semana um grande passo no sentido de vir a ser o homem que poderá trazer de novo o maná ao PSD. Durante três anos, Borges manifestou a sua disponibilidade para colaborar com o PSD e com o Governo. Só que o aparelho do PSD - que tão bem se serviu da sua disponibilidade, antes das eleições de 2002, pois o seu apoio credibilizava Durão Barroso - não estava disposto a estender a passadeira vermelha a este banqueiro, economista, gestor e professor de renome internacional, apontando-lhe como defeito o facto de "não conhecer a realidade do país"; ora, para os aparelhos, este é um pecado grave, não funcionando como indulgência o facto de ele conhecer, como poucos, as tendências do mundo.

Borges entretanto percebeu que, para chegar ao Céu, tinha antes de sofrer no Purgatório, expiando os seus pecados de "internacionalismo" e de algum "cosmopolitismo" de "beto da linha". Ao longo do último ano, uma vaga de fundo, bastante ampla, e com elementos de peso, tem construído uma sólida rede de cumplicidades e de compromissos que vão, sem margem de dúvidas, dar frutos.

Muitos militantes desconfiam de Borges. Fogo fátuo que facilmente se dissipará, quando perceberem que este é o homem que os poderá levar de novo a bom porto. A sua presença, no Pombal, tem um significado político muito importante. Ganha notoriedade. Espaço político. Cria uma plataforma de apoio.

Estamos, certamente, na presença da pessoa que poderá, no futuro, dar um novo rumo ao PSD e ao país.

António Borges pode não se assumir como um liberal clássico; em entrevista recente, negou-o, afirmando até uma certa simpatia pelo "modelo europeu". Irá negar três vezes, certamente. Mas ele é, sem margem para dúvidas, a pessoa que melhor poderá criar uma alternativa que incorpore no seu programa uma forte componente liberal.

Até lá, teremos um PSD algo esquizofrénico, "politeísta", que festeja em Congresso Marques Mendes mas anseia por uma alternativa de outra envergadura.

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