Liberdade, Pluralismo e Silêncio (Fev. 2005)
Publicado em 14 fevereiro 2005 por RAF | E-mail this post
Morreu ontem a irmã Lúcia, uma freira carmelita de 97 anos que, na sua infância, terá sido visitada pela Virgem Maria.
As Aparições de Fátima, não constituindo um dos pilares fundamentais da doutrina da Igreja Católica - não configuram aquilo que se designa como "Dogma de Fé" - deram origem a um Culto Mariano praticado em todo o mundo.
A Virgem de Fátima é, hoje, para muitos milhões de crentes, porto de abrigo e conforto num mundo cada vez mais áspero e agreste.
Eu não sou devoto de Fátima; mas respeito a sua mensagem e aqueles que a seguem.
Ao longo do dia, fui ouvindo e lendo os comentários mais indescritíveis sobre um momento que se quer de recolhimento.
Alguns políticos - por sentimento próprio ou para agradar ao seu eleitorado - optaram por suspender a sua campanha; outros - por sentimento próprio ou para agradar ao seu eleitorado - optaram apenas por suspender os actos mais festivos; finalmente, outros - por sentimento próprio ou para agradar ao seu eleitorado - preferiram manter a campanha tal como inicialmente ela teria sido agendada. Cada lider partidário tomou a decisão que considerou mais adequada para sí e/ou para o seu partido. Qual terá sido a mais correcta? A resposta é só uma: todas.
Portugal diz-se uma sociedade "tolerante" e de "brandos costumes". Tolerância, para mim, significa respeitar os comportamentos alheios distintos dos meus, que não me prejudiquem; significa guardar respeito pelas ideias, crenças e convicções que são distintas das minhas, e que não interferem com os meus interesses legítimos, não discordando, em momentos que se querem de recolhimento. Pluralismo não significa apenas cada um dizer o que lhe apetece quando lhe apetece. Significa não falar, quando se deve estar calado. Esta dimensão é a que torna o Pluralismo efectivo. E é a prova da maturidade de uma sociedade civilizada, que, aparentemente, ainda não atingimos. Pacheco Pereira e Vital Moreira, hoje, deram (mais) um (mau) exemplo de intolerância, porque não souberam estar calados. Maus exemplos nos deram também D. Januário Torgal Ferreira, bispo que me deu a Comunhão (o que explicará, eventualmente, porque sou hoje - como ele - tão interessado pelo "bitaite politiqueiro") e o Bispo de Setúbal, ao colocar a Igreja no centro de uma polémica num momento em que se exigiria recolhimento.
Infelizmente, a ânsia da palavra acessa também fere de morte alguns bons liberais, como CAA, que em certas matérias não percebeu que existem momentos em que ser liberal significa estar calado. Mas até o compreendo, pois o seu anti-clericalismo é mais forte que o seu liberalismo, o que o leva ao incómodo de se ver tão bem representado pelo Rui Tavares.
Ontem morreu a Irmã Lúcia, freira Carmelita que dedicou a sua vida a rezar pelo mundo e a amar toda a humanidade. É normal que a sua grandeza faça com que certos homens procurem diminuir o seu exemplo, pois a sua bondade representa um forte indício da existência de Deus.
|