Pensamento liberal e neo-liberal e Doutrina Social da Igreja: “O regresso ao individualismo” (I)
Publicado em 22 junho 2006 por RAF | E-mail this post
Introdução: o risco da catalogação e da compartimentação das ideias:Na discussão das ideias, por vezes sofremos a tentação de as “compartimentar”, “rotulando-as” e “reduzindo-as” a conceitos simples e directos, fechando-as em “pacotes” a que gostamos de chamar “ideologias”; colocamo-las ainda sob tensão e conflito, confrontando-as numa abordagem dialéctica, em busca de uma “luz”, de uma síntese que nos satisfaça; no fundo, todos procuramos “respostas” clarividentes, que nos deixem sem dúvidas…
Não é esse, contudo, o momento. Se há, aliás, ideia que caracteriza adequadamente o nosso tempo, ela é a de “complexidade”; o planeta parece que gira cada vez mais rápido, a uma escala que o torna imprevisível; toda esta dinâmica global força o indivíduo a confrontar-se com as suas limitações; o homem, no século XXI, perdeu as certezas, estando cada vez mais afastado dos seus antepassados racionalistas, dos “cientistas sociais”, de todos aqueles que se sentiam capazes de apreender a “essência do real” apenas através da razão; as visões cartesianas persistem, mas estão hoje em crise, pois todas as suas respostas laboratoriais – completas, translúcidas, transparentes, capazes de funcionar como cartilha ideológica – chocam com a realidade e com os processos continuados e acelerados de mudança. A globalização trouxe uma nova e mutável “catalaxia”, que se vive, mas que nem sempre se observa, pois a sobreposição de imagens e a amplitude espacial em que estas são produzidas e exibidas estão para lá do nosso reduzido “alcance visual” (da nossa capacidade de apreensão e conhecimento): hoje, o “olho humano” é incapaz de perspectivar a globalidade; mais do que nunca, observamos o mundo por um monóculo, produzindo pensamentos fechados sobre a realidade.
Por isso, nesta apresentação, vou procurar escapar ao simplismo em que cairia se me preocupasse em fazer apenas o estrito paralelismo entre liberalismo e doutrina social da igreja.
Até porque tal seria um enorme erro. Veremos de seguida porquê!
Rodrigo Adão da Fonseca