Arquivos do RAF

Aqui vou guardar alguns dos posts que escrevi no Blasfémias, é não só, e que pretendo ter «à mão». Não vai ter mais do que uma função de aquivo.





Hoje, o barnabé Rui Tavares insurge-se contra o Luís Delgado, por ele se manifestar contra a Eutanásia.

Esta questão tem dividido bastante a sociedade civil em Portugal; ela é, sem dúvida, uma das questões éticas mais sensíveis destes tempos "pós-modernos" (perdoa-me, Luis Nazaré: afinal a expressão da mesmo jeito!), onde o relativismo light (bem me parecia que esta expressão iria ser novamente útil), o culto da juventude e do corpo, o hedonismo e a vida sem sacrifícios nem dor dominam o nosso imaginário.

Antes de avançar, não resisto a uma pequena provocação: quando PSL na campanha eleitoral se referiu a esta questão, assistimos a um coro de protestos, por não ser "pertinente" nem interessar à generalidade dos cidadãos eleitores (com o que, aliás, concordei); PSL estaria a "desviar a atenção dos portugueses". Passados pouco mais de trinta dias, bastaram a ascensão ao poder do mais nórdico de todos os hispânicos, a cobertura da imprensa a propósito de um galardoado filme europeu e um complicado processo judicial na América para que a Eutanásia passasse para pole position das preocupações da sociedade mediática portuguesa (não sei se dos portugueses).

Não vi o filme "Mar Adentro"; mas conheço bem a história deste pobre galego que morreu bem antes de estar morto, por ter perdido o amor à vida; o processo de Terri Schiavo é bem mais complicado, no limite do conflito ético.

Em qualquer caso, o cenário que nos tem sido apresentado é de arrepiar: a instrumentalização da dor humana, posta ao serviço da eutanásia como símbolo de modernidade e progresso, é assustadora; os rótulos de insensibilidade e "medievalismo" colocados aos que, simplesmente por respeitam a vida (além de a amarem), não vêem a eutanásia como solução, indignam-me:

Eu estou solidário com a dor e o sofrimento daqueles a quem a vida foge mas a morte não abre as portas; agora, tal não significa que se possa aceitar como solução pôr a decisão sobre a vida e a morte nas mãos dos homens.

Esta não é, para mim, e no seu ponto de partida, uma questão religiosa (embora a abordagem da religião lhe dê outra dimensão); nasce, antes de mais, do respeito que tenho pelas leis da natureza e por uma hierarquia de valores partilhada por muitos homens e mulheres, de vários e nenhuns Credos. Eu acredito que há um Deus; mas a sua existência apenas me é revelada porque tenho Fé; admito que outros possam ter visão diferente. A Vida, essa, a todos nos é evidente; a sua existência não pode ser negada: podemos falar em dor, em prazer, em sofrimento, em direitos; mas tudo isto pressupõe uma existência. Naquilo que nos é dado a conhecer pela Natureza, negar a vida - como retirá-la - é conduzir o homem à sua inexistência. Por isso, não há dor, nem sofrimento, nem vontade, que justifique que alguém possa conduzir o seu próximo a este vazio, a esta inexistência.

Rui Tavares termina a sua intervenção com um desabafo: "Que mundo é este, meu Deus?". A utilização da expressão "Meu Deus", este recurso à providência divina está de tal forma banalizado que serve como forma de desabafo protagonizado pelos mais improváveis desesperados.

Mas, Rui Tavares, deixe Deus fora destas questões dos homens.
Rodrigo Adão da Fonseca



No número de Outono de 2004 (Fall 2004) da The National Interest, Francis Fukuyama, no expoente da crise do Iraque, e na iminência das eleições americanas, procura demarcar-se da Administração Bush; não renega à intervenção, explorando formas de justificar no plano da legitimidade a ausência de armas de destruição maciça, recorrendo, entre um conjunto de argumentos, ao que designou ser a "ex post legitimacy"; Fukuyama considera que o erro está, sobretudo, na corrente encabeçada por Charles Krauthammer, um dos mais antigos aliados de Fukuyama pertencente ao círculo mais restrito e antigo do neoconservadorismo: o artigo The Neoconservative Moment marca o início de uma aberta discussão no ninho dos falcões neoconservadores.

No número seguinte (Winter 2004/2005), Francis Fukuyama avança (Letters):
"(...) Now that the partisanship of the election is past, it is important for American policymakers to sit down quietly and reflect a bit on the past four years. A lot of mistakes and poor judgment calls were made; some were by individuals and others were failures of institutions. Charles Krauthammer joins the Bush Administration in doggedly defending everything that has been said and done in U.S. foreign policy over the past three years. Let's hope this doesn't remain the pattern as we move into the first year of the new administration. (...)"

Charles Krauthammer, no mais recente número (Spring 2005) responde a Fukuyama (Letters): "(...) Fukuyama's charge against me is little more than an unsubtle way of positioning himself. He is saying: Unlike other neoconservatives who blindly defend Bush, here I am, the brave neoconservative dissenter, courageously speaking out against the Iraq War (...)".

Por entre considerações recíprocas de "judaísmo israelita na condução das relações internacionais" e "realismo", as divergências estão longe de terminar.

Será que Bush consegue impor Wolfowitz na Presidência do Banco Mundial?

Quem acreditava que no segundo mandato de Bush a influência neo-conservadora iria diminuir, pode agora começar a rever as suas posições. O afastamento de Colin Powell claramente indiciava o que está a acontecer: os neoconservadores, na sua versão mais radical, estão de armas e bagagens instalados na Casa Branca.

A influência neoconservadora não tem sido suficientemente desmascarada pelas direitas europeias, que optam pelo apoio expresso ou envergonhado a correntes que não encontram qualquer acolhimento na nossa forma de pensar: nem a visão internacionalista de Krauthammer, nem o pensamento ziguezagueante de Fukuyama (num misto de arrependimento justificado na crença da superioridade moral norte-americana e de crítica aos que, assolados pela realidade, e com tanta luz, já não a conseguem discernir) nos servem, e a leitura reiterada dos seus textos e a análise das suas ideias causam-me um arrepio na espinha...
Rodrigo Adão da Fonseca



Muito se tem escrito aqui no Blasfémias e noutros blogues sobre esta questão.

Da minha parte, concordo com o AAA (mais uma vez; para não variar), quando defende n'O Insurgente que não é oportuna a criação de um partido liberal.

Na verdade, mais do que criar um partido de raiz, urge difundir o ideário; o que importa é que as gerações que venham a assumir o poder (económico, político, judicial), no curto-médio prazo, adiram ao conjunto de princípios que constituem a essência do liberalismo e os transportem para a sua vida e actividades correntes.

Os partidos de poder estão sendimentados; a criação de um partido de matriz liberal no presente limitará os horizontes e o raio de acção dos Liberais: o partido ficará cristalizado à direita do PP: o PP, como aqui já referi, é um partido político do centro, por vezes com alguns devaneios esquerdistas, mas que, por ser no plano moral o único partido conservador em Portugal, portador de uma mensagem democrata-cristã, está fortemente enraizado junto do eleitorado mais tradicional, ocupando o espaço da direita. Esse espaço político - que o PND tentou disputar - tem uma dimensão limitada, com uma expressão eleitoral reduzida; daí que a criação de um partido liberal, na minha opinião, não tenha viabilidade; nem me parece que seja fácil criar um espaço político de raíz para o liberalismo com um expressão em termos eleitorais capaz de impor mudanças no sistema político.

Por isso, o que interessa é trabalhar o liberalismo dentro dos partidos de poder. O Liberalismo é portador de uma mensagem que pode e deve ser difundida em grande escala, naquilo que é o espaço do centro e da direita (ocupado pelo PP, PSD, e uma parte significativa do eleitorado do PS); é errado dirigir a mensagem para um eleitorado restrito e específico.O partido mias adequado para ser o portador da mensagem liberal é o PSD: i) por se colocar junto do eleitorado numa posição equidistante entre a esquerda e a direita conservadora, podendo assim agregar apoios em ambos os quadrantes; ii) por ser o partido a quem o eleitorado sempre reconheceu uma maior capacidade para liderar a mudança, sendo o que até hoje melhor se reinventou e acompanhou os novos tempos.
Rodrigo Adão da Fonseca



João Carvalho Fernandes, hoje, 16 de Março, n'A Mão Invisível: o post merece, não só ser linkado, como citado:

"RAYMOND ARON
Se a tolerância nasce da dúvida, que se ensine a duvidar dos modelos e das utopias, a recusar os profetas da salvação, os anunciadores de catástrofes.
Raymond Aron"

Entretanto, apercebo-me que o mesmo João Carvalho Fernandes, já ontem, havia feito igual referência no Fumaças, por ocasião dos 100 anos do nascimento deste autor.

Por casualidade, citei hoje Aron a propósito da sua crítica a Marx, na sua obra As etapas do pensamento sociológico; mas tenho de reconhecer que a passagem de Aron citada por J. Fernandes encaixa que nem uma luva como complemento ao meu post.

Será isto que Smith queria representar quando falava na Mão Invisível?



Luis Nazaré, num esforço titânico de contenção, afirma, em reacção ao meu post de ontem, que "já não tem paciência para receber lições de liberdade de quem (felizmente) nasceu na geração Coca-Cola", desabafo habitual de alguns que, por terem nascido no tempo em que o vinho dava de comer a um milhão de portugueses, consideram que a Liberdade e a sua definição são suas conquistas e património pessoais. LN pode ter vivido os tempos da ditadura; não sei se é um "mártir" da Liberdade; a mim apenas me preocupa o que ele escreve hoje sobre a Liberdade. Tudo o resto aqui, e neste momento, não tem relevância.

LN considerou a minha posta de ontem "vibrante", afirmando que ela "traduz fielmente" um "sentimento urbano e pós-moderno sobre a questão participativa". Na verdade, a democracia participativa teve o seu expoente máximo na polis grega, o que, lateris (muito lateris! e com alguma boa-vontade), poderá permitir apontar para o aspecto "urbano" do meu comentário; quanto à pretensa pós-modernidade da posta, tenho as minhas dúvidas; mas não vou explorar especialmente este aspecto.

LN diz ainda que não aceita "lições de liberdade"; com franqueza, ninguém na jovem "direita espevitada" tem a pretensão de ensinar o que quer que seja a LN (a não ser relembrá-lo que a "mocidade" já não existe nestes novos tempos); aproveita para se justificar na sua posição, procurando explorar algumas das dificuldades óbvias que existem na chamada democracia participativa onde se enquadra o referendo, aspectos que, contudo, na minha imberbe opinião, não invalidam as suas virtudes.

A democracia evoluiu para um modelo representativo, pela óbvia impossibilidade de se adoptar um modelo puro de democracia directa; em todo o caso, existem situações que, pela sua importância, devem ser objecto de escrutínio.

Diz LN que se pudéssemos experimentar e fazer prova real, "os resultados seriam catastróficos para as causas do presente e do futuro". Em relação a alguns dos temas indicados por LN, não sei quais seriam os resultados: seriam os que todos, em conjunto, escolhêssemos; prefiro a catástrofe oriunda e partilhada por todos, que a desgraça promovida por alguns em prejuízo dos outros.

Hoje assistimos a uma total descrença dos cidadãos em relação ao político; em parte, porque um conjunto de pessoas, como o LN, preferem assumir o leme da Nação, tutelando-a, dizem, com receio da "catástrofe" (pena que, neste caminho tortuoso, alguns acabem por perder-se, governando para si próprios); em parte, também, e como dizia Paulo Rangel, porque os cidadãos procuram desresponsabilizar-se em relação às decisões dos políticos, podendo, desta forma, penalizar liminarmente o universo do poder pelos insucessos, divorciando-se do projecto comum. Existe hoje uma crise de responsabilidade, nas esferas política e dos cidadãos, que faz com que impere uma cultura de desperdício e corrupção, de evasão fiscal, de afastamento da coisa pública, de delapidação do património de todos, de oneração irresponsável das gerações futuras, de "subsidio dependência" e letargia geral.

Por isso a receita liberal, defensora da responsabilidade individual e da democracia participativa, urge. É, assim, fundamental diminuir o peso do Estado, que substitui, à força, mais do que é necessário, os cidadãos nas decisões que deveriam ser suas; é indispensável transferir certos poderes para organizações mais próximas dos cidadãos, eliminando parte da mega-estrutura do poder centralizado, portadora de uma forte tendência para a alienação; importa ainda reforçar o instituto do referendo, que permite eliminar a mediação do processo político e a tomada de decisões directas em assuntos essenciais e que ultrapassam o quadro partidário.

Medo da "catástrofe"? Quem tem medo compra um cão. Não sonega as liberdades, mesmo quando de uma forma paternal diz que não aceita lições. Sou urbano; nasci numa cidade, e sempre vivi em grandes metrópoles; nunca soube bem o que é ser "pós-moderno" (parece-me que será um mix de relativismo light e lugares comuns; por isso duvido que o seja); e sou um expoente bem visível da geração Coca-Cola, no sentido mais literal que o termo pode assumir (devo ser o maior cliente nacional); mas antes isso, que fazer parte, como LN faz, de uma geração em que o vinho dava de comer a um milhão de portugueses e esquecer a essência da Liberdade: LN será certamente "anti-fascista" e "amante da Liberdade"; admito, contudo, que provavelmente na adolescência, embora bebesse vinho, fosse capaz de preferir a vodka; paradoxalmente, sendo da Esquerda que se considera um "bastião da Liberdade" e rejeita lições, desconfia dos processos democráticos. Recomendo-lhe que releia Raymond Aron (in "As Etapas do pensamento sociológico"), um livro do seu tempo, onde poderá recordar as razões pelas quais é perigoso o poder político substituir-se na determinação das vontades alheias. E este perigo não se manifesta só no Estados Socialistas Puros: existe, com maior ou menor intensidade, sempre que o Estado se substitui ao cidadão.

Como Sir Isaiah Berlim, concordo que para viver em sociedade todos temos de sacrificar parcialmente a nossa esfera de liberdades, este é o lugar-comum que nos conduz à democracia representativa; mas será assim tão necessário prescindir dos cidadãos nas decisões mais relevantes, negando-se a possibilidade de referendo?
Rodrigo Adão da Fonseca



Os tempos mudam, e com as alterações climáticas ocorridas no ambiente político, morrem certos mitos.

Um dos mitos que sempre nos venderam é que a esquerda "ama" a Liberdade, ao contrário da direita. A esquerda em Portugal é apresentada como o garante histórico da Liberdade, em exclusivo.

Não sei se uma pseudo-direita despreza a liberdade. Talvez. Mas esse desprezo é também partilhado por uma certa esquerda, basta olhar para a forma paternalista e complacente como políticos no activo toleram e até acarinham Cuba e a Coreia do Norte.

O liberalismo, neste contexto, não é de direita nem de esquerda, nunca hesitando na defesa intransigente da liberdade individual, incentivando todas as formas de aproximação do cidadão às decisões que sobre ele incidem.

Talvez a esquerda ame a Liberdade. Não serei eu quem irá qualificar os amores alheios. Mas, aparentemente, e lendo o que escreve Luís Nazaré sobre o Referendo, este é um amor "platónico": ama-se, mas não se pratica; ou pratica-se, digamos, o "essencial".

Os referendos são, no nosso sistema constitucional, a forma menos desvirtuada de participação popular. Permitem que a população manifeste a sua vontade, sem necessidade de sintetizar, num só voto, as suas aspirações sobre milhares de matérias - que é o que ocorre nas eleições legislativas. Apresentam ainda a vantagem de se poder dispensar a mediação do aparelho político, incentivando o aparecimento de movimentos cívicos. Acresce que o Referendo é a forma de apuramento da vontade popular que mais responsabiliza o eleitorado pela solução encontrada, mesmo aquele que opta por ir passar o domingo à praia, cuja omissão contribui, também, para um dado resultado. Por isso é útil recorrer-se ao Referendo quando as questões em discussão têm a densidade do Aborto, da Constituição Europeia ou da Regionalização.

Para Luís Nazaré, contudo, (sic.)"(...) os referendos nunca serviram para coisa alguma a não ser para exprimir os sentimentos conservadores e imobilistas do povo profundo (...)". Que desprezo pelo Povo, Luis Nazaré, que o obriga a ter de se conformar com estes tempos, "(...) pretensamente abertos e participativos (...)", onde só lhe resta "(...) aceitar o consenso reinante nas esferas partidárias quanto à necessidade de auscultar a população portuguesa (...)".

Que maçada esta, Luis Nazaré, termos de auscultar o Povo, em vez de o Educar...

Mas é bom ver a esquerda a reassumir sem pudor tentações antigas: a democracia apenas serve para tomar o Poder; lá chegados, o "Povo" passa a ser uma força "imobilista" e "conservadora", que importa educar, antecipando o que Ele quereria, se não estivesse agarrado a convicções retrógadas. O "Povo" passa a ser visto num sentido abstracto, figurado, deixando de ser constituído por pessoas concretas. A vontade do "Povo" deixa de ser a soma das vontades individuais, mas apenas a projecção de uma Vontade Geral, que não importa escrutinar.

Ou será que eu estou enganado, e o post em questão mais não é do que o desabafo de um jornalista que, em vez de mediar, decidiu assumir de vez que prefere o papel do 4.º poder?



Nos últimos dias, o país mediático e bloguítico anda entretido a comentar um anúncio publicado por um sacerdote franciscano com uma certa ânsia de protagonismo. Sem paróquia, o Padre optou por recorrer à plateia mediática para difundir as suas ideias. No fundo, este padre adoptou a estratégia anacleta de difusão da mensagem: por falta de púlpito, utilizou os media como megafone para a sua auto-promoção...

Ateus militantes e sectores da esquerda intelectual aproveitaram a ocasião para - a par dos simpáticos comentários sobre a doença de João Paulo II - demonstrarem o seu afecto e amizade pelo fenómeno religioso e, em especial, pelos católicos. O Barnabé foi o que conseguiu ter o humor mais requintado e carinhoso. Adorei a imagem do Papa a beber por uma palhinha e a andar de gatas sozinho. Ainda não consegui parar de rir! E que grande ternura e respeito pela doença e pela velhice aí se manifesta! O nosso amigo Nuno Sousa é, de facto, uma das maiores certezas do humor nacional, um talento escondido que agora se revela... Todos os velhinhos doentes da blogosfera devem ter amado esta imagem!

Ser católico nos dias de hoje significa aceitar que a nossa condição, à luz dos outros, é a de uma certa menoridade intelectual, por não termos a capacidade de seguir os verdadeiros desígnios da Razão. Significa, ainda, acharmo-nos limitados na nossa suposta existência humana, por não sermos capazes de aspirar aos "prazeres" absolutos, amarrados que estamos aos "estigmas" da Religião; significa, ainda, termos de assistir, impávidos e serenos, à incapacidade de uma certa corrente ateia, que não separa o universo do sagrado e do profano, de respeitar a esfera católica. Implica, ainda, sujeitarmo-nos à censura alheia, sempre atenta às incoerências que a prática católica acarreta, por ser assumida por homens e mulheres, cuja natureza - como a de todos - é imperfeita.

Será que me importo? Nada. Porque sou católico em plena liberdade de espírito. Porque sigo uma mensagem de esperança, de construção interior, procurando diariamente melhorar as minhas imperfeições. Porque esta é uma batalha minha, na qual faço o meu caminho. Cristo também foi insultado quando carregava a sua Cruz para ser crucificado. Em silêncio.

Vivemos hoje tempos difíceis; nunca houve tanto, mas, ao mesmo tempo, nunca estivemos, como sociedade, tão infelizes e insatisfeitos. Afinal, o progresso material e o acesso irrestrito ao universo das coisas mundanas não trouxeram mais felicidade terrena.

Um certo mundo mediático e a esquerda do tipo barnabaico podem ironizar com a Fé católica. Podem, até, extrapolar os actos excêntricos de um pobre Padre. Podem, ainda, ridicularizar o Papa João Paulo II, a Irmã Lúcia, e todas as figuras da Igreja. Os meus companheiros de bancada, JM e CAA podem desabafar as suas incompreensões quanto a certos dogmas da religião.

Em todas estas manifestações, porém, ignoram aquilo que é a verdadeira essência do Cristianismo, razão de uma longa vida, apesar das vicissitudes históricas, de dois milénios: uma mensagem de Esperança, que se renova, pois assenta na permanente entreajuda entre os homens e mulheres, na sempre necessária promoção de virtudes humanas cristãs, no recato do conforto na dificuldade; porque não se esgota em palavras vãs, mas em actos diários, visíveis ou discretos.

Enquanto o mundo Racional idealizava modelo utópicos, sem que o seu ópio fosse suficiente para aliviar a dor, antes conduzindo à destruição e à morte de povos inteiros e de culturas centenárias, o Cristianismo, na sua menoridade intelectual e na incongruência dos seus dogmas, disseminou-se, a partir de esforços individuais e colectivos, na construção de um mundo melhor, movido pela bondade que existe no coração dos homens.

Como todos, tenho os meus dias. Como todos, tenho as minhas falhas, algumas delas, enormes. Mais do que enfatizar modelos estereotipados de homens e mulheres dotados de características quase-divinas, o exemplo católico, hoje, deve ser o do cidadão comum, a quem os outros reconhecem um esforço de melhoria constante, de construção interior baseado nas virtudes cristãs, de dedicação aos outros, portadores de uma mensagem de Esperança. Cristãos no Mundo; não Cristãos do Outro Mundo. Cristãos que digam que, na dificuldade, são felizes em Cristo. Eu sou feliz. Sempre o fui, desde a minha infância. Sempre vivi em plena liberdade de espírito. Por isso sou liberal. Por isso sou católico. Esta é a minha mensagem. Este é o meu modo de ver as coisas. Aguardo calmamente pelas caricaturas...


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Eu sou RAF rodrigo.adao.fonseca@gmail.com

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